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Por VIP3R
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Durante anos os cientistas lutaram com um facto intrigante: o Universo parece ser extraordinariamente adequado para a vida. As suas propriedades físicas estão perfeitamente ajustadas de modo a permitir a nossa existência. Estrelas, planetas e o tipo de química que produz peixes, plantas e pessoas, tudo isto não seria possível se algumas das constantes cósmicas fossem apenas ligeiramente diferentes.

Bem, existe outra propriedade igualmente importante: a que o Universo está estabelecido de tal maneira de modo a manter o isolamento.

Aprendemos isto há relativamente pouco tempo. A grande descoberta teve lugar em 1838, quando Friedrich Bessel venceu os seus colegas, observadores telescópicos, ao ser o primeiro a medir a distância a uma estrela que não o Sol. 61 Cygni, um sistema binário na nossa vizinhança, afinal está a cerca de 11 anos-luz. Para aqueles que são adeptos dos modelos, pense desta maneira: se encolhêssemos o Sol até ao tamanho de uma bola de ping-pong e a puséssemos no tanque principal do Oceanário do Parque das Nações em Lisboa, 61 Cygni seria uma outra bola ligeiramente mais pequena perto de Gotemburgo, na Suécia.

As distâncias entre estrelas adjacentes são medidas à escala de dezenas de biliões de quilómetros. As distâncias entre civilizações adjacentes, mesmo assumindo que existem muitas por aí, são medidas à escala de milhares de biliões de quilómetros - centenas de anos-luz, para usar uma unidade mais fácil de entender. Note que este número não muda muito consoante o número de planetas com civilizações extraterrestres acredite que existam - a distância de separação é basicamente a mesma conforme pensa se existem dezenas de milhares de sociedades galácticas ou um milhão.

As distâncias interestelares são imensas. Se a física do Universo tivesse sido diferente - se a constante gravitacional fosse mais pequena - talvez as estrelas tivessem nascido bem mais perto umas das outras, e uma viagem até aos nossos vizinhos interestelares não teria seria nada mais que uma entediante boleia de foguetão, como um voo transcontinental a bordo de um avião. Para viajar de uma estrela para a próxima à velocidade dos nossos melhores foguetões demoraria algo como 100.000 anos. Para qualquer civilização extraterrestre que tivesse conseguido armazenar quantidades tão gigantescas de energia e proteger-se devidamente contra a radiação, protecção esta necessária para um voo espacial relativista, o tempo de viagem era ainda assim medido em anos (se não para eles, então para aqueles que deixassem para trás).

Isto tem algumas consequências óbvias (que, extraordinariamente, escaparam à atenção da maioria dos escritores de Hollywood.) Para começar, é melhor esquecer "impérios" galácticos ou o agora mais politicamente-correcto termo "federações". Há dois mil anos, os Romanos ergueram um império que se estendia desde a Península Ibérica até ao Iraque, com um raio de cerca de 2000 km. Atingiram este feito graças à sua organização e à engenharia civil. Todas aquelas estradas (para não falar do Mediterrâneo) permitiram-lhes mover as tropas vários quilómetros por hora. Até os cantos mais recônditos do Império Romano podiam ser alcançados em meses ou até menos, ou aproximadamente 1% do tempo de vida do legionário comum. Fazia sentido levar a cabo campanhas desenhadas para manter coesa uma complexa e extensa estrutura social quando para o atingir requeria apenas aproximadamente 1% de uma vida.

No século XIX, os barcos a vapor e os caminhos de ferro aumentaram as velocidades de deslocação dos exércitos por um factor de dez, que extendeu o seu raio de controlo por um valor idêntico. Os Ingleses conseguiam governar um império que era mundial.

Mas aqui é que o assunto muda de figura: mesmo que conseguíssemos mover pessoas quase à velocidade da luz, esta "regra de 1%" ainda limitaria a nossa capacidade de intervir efectivamente - o nosso raio de controlo - a distâncias de menos de um ano-luz, consideravelmente menos, até, que a distância entre o Sol e a sua estrela mais próxima (Proxima de Centauro, a uns 4,22 anos-luz). Consequentemente, esta "Federação Galáctica" é apenas ficção (como se já não soubesse). Sendo assim, se fosse avisado que uma civilização extraterrestre estaria a despoletar o caos e a destruição no Braço Galáctico de Perseu, não poderia reagir rápido o suficiente para afectar o resultado. E as suas tropas há muito que tinham deixado de existir antes que alcançasse as linhas da frente.

Por outras palavras, quaisquer formas de vida inteligente extraterrestre que possam existir por aí muito provavelmente não chegarão a saber da existências de outras.

Um argumento semelhante pode ser aplicado à comunicação. As trocas de informação no passado demoravam vários meses (uma carta por mar, por exemplo). Genericamente falando, regularmente começamos qualquer projecto bem-definido com a duração de mais que duas ou três gerações. Os construtores de catedrais medievais estavam dispostos a gastar esse tempo para completar os seus edifícios góticos, e aqueles que enterram "cápsulas do tempo" estão ocasionalmente dispostos a deixar passar séculos antes que os seus conteúdos sejam desenterrados. Mas, então e um projecto que demore vários séculos, ou até milénios? Quem é que está disposto a fazer tal tarefa?

Claramente, estas simples observações têm que ter implicações para organizações que se dedicam à pesquisa de sinais de vida inteligente no espaço, como o famoso SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) que, como se realçou, envolve transmissões que terão que viajar durante centenas ou milhares de anos. Em particular, se existirem sinais a serem espalhados pela Galáxia com os mesmos propósitos que o SETI (entrar em contacto), então (1) estes extraterrestres têm uma esperança de vida muito maior que a nossa, que - se é fã de inteligência artifical - implica o facto de provavelmente não serem biológicos. Ou (2) ainda nos falta conhecimentos importantes de Física, que nos permitiriam comunicar mais rapidamente que a luz, e estes esforços de comunicação extraterrestre não incluem o envio de luz ou ondas de rádio pelo espaço, mas algo bastante mais poderoso e avançado tecnologicamente, algo que a nossa civilização não consegue [ainda(?)] receber.

Muitos leitores irão, talvez num sentido de perversidade afectiva, escolher a segunda hipótese. Talvez tenham razão, mas isso desafia o que sabemos. E o que sabemos despoleta algo digno de se falar num jantar entre amigos - nomeadamente, que as escalas de tempo para as viagens e comunicações interestelares são demasiado longas para uma fácil interacção entre seres cujo tempo de vida são, como nós, de apenas um século ou menos. Por isso, enquanto o Cosmos pode facilmente estar polvilhado de vida inteligente - a arquitectura do Universo, e não uma fictícia "Directiva Federal" (como n'"O Caminho das Estrelas"), assegura uma preciosa e diminuta interferência entre uma cultura e outra(s).



Fonte: Astronomia On-line

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