- segunda fev 11, 2008 2:34 am
#23985
Na noite de 20 de Fevereiro, a Lua Cheia passará na sombra da Terra num evento que será visível praticamente por todo o Hemisfério Norte, desde os EUA até à Europa. O eclipse lunar total será ainda mais bonito devido à presença próxima do planeta Saturno e da brilhante e azulada Régulo, da constelação de Leão.
Os eclipses no passado distante normalmente aterrorizavam quem os visse e eram assim tidos como presságios do mal. Certos eclipses lunares tiveram um efeito avassalador em eventos históricos. Um dos mais famosos exemplos é o truque de Cristóvão Colombo.
No dia 12 de Outubro de 1492, como supostamente todos os alunos que estudam História deviam saber, Colombo alcançou uma ilha a Nordeste de Cuba. Mais tarde deu-lhe o nome de São Salvador. Durante os dez anos seguintes, Colombo faria mais três viagens ao "Novo Mundo", que só veio a aumentar a convicção que tinha chegado ao Oriente navegando para Oeste.
Foi na sua quarta e final viagem, enquanto explorava a costa da América Central, que Colombo se encontrou em maus lençóis. Deixou Cádiz, Espanha, a 11 de Maio de 1502, com os navios Capitana, Gallega, Vizcaína e Santiago de Palos. Infelizmente, graças a uma epidemia de térmitas que atacaram as embarcações, Colombo foi forçado a abandonar dois dos seus navios e finalmente teve que dar como encalhadas as suas duas últimas caravelas na costa norte da Jamaica a 25 de Junho de 1503.
Inicialmente, os nativos da Jamaica receberam de braços abertos os náufragos, providenciando-lhes com comida e abrigo, mas à medida que os dias se tornavam em semanas, as tensões escalaram. Finalmente, após terem estado encalhados durante mais de seis meses, metade da tripulação de Colombo amutina-se, saqueia e assasina vários nativos, já eles também fartos de oferecer mandioca, milho e peixes em troca de pequenos assobios de latão, bugigangas, sinos de falcões e outros bens facilmente dispensáveis.
Com a fome agora a ameaçar, Colombo formula um plano desesperado, embora engenhoso.
Johannes Müller von Königsberg (1436-1476) veio em auxílio do Almirante, conhecido pelo pseudónimo latino de Regiomontanus. Foi um importante matemático alemão, astrónomo e astrólogo. Antes da sua morte, Regiomontanus publicou um almanaque contendo tabelas astronómicas e cobrindo os anos entre 1475 e 1506. O almanaque de Regiomontanus veio a revelar-se de grande valor, pois as suas tabelas astronómicas continham informações acerca do Sol, Lua e planetas, bem como as mais importantes estrelas e constelações que ajudam na navegação. Depois de ter sido publicado, nenhum marinheiro se aventurava ao mar sem uma cópia. Com a sua ajuda, os exploradores foram capazes de deixar as suas rotas comerciais e de se aventurarem para mares desconhecidos em busca de novos mundos.
Colombo, claro, tinha uma cópia do almanque com ele enquanto estava na Jamaica. E em pouco tempo de estudo das tabelas, descobriu que na noite de Quinta, 29 de Fevereiro de 1504, um eclipse total da Lua teria lugar pouco tempo depois do nascer-da-Lua.
Armado com o seu conhecimento, três dias antes do eclipse, Colombo pediu uma reunião com o Cacique ("líder") dos nativos e anunciou que o seu deus Cristão estava enfurecido com o seu povo por já não fornecer comida a Colombo e à sua tripulação. Por isso, estava prestes a mostrar um claro sinal da sua raiva: daí a três noites, obliteraria a Lua nascente, tornando-a "vermelha de fúria", que significava que males estavam prestes a serem libertados sobre todos eles.
Na noite prevista, à medida que o Sol se punha a Oeste e a Lua começava a emergir para lá do horizonte a Este, era claramente óbvio para todos que algo estava terrivelmente errado. Quando a Lua subiu totalmente acima do horizonte, faltava o seu limite mais abaixo!
E, apenas uma hora mais tarde, à medida que descia a escuridão, a Lua exibia uma aparência incendiária e "ensanguentada": no lugar da normalmente brilhante Lua Cheia de Inverno, agora pairava uma ténue bola vermelha no céu a Este.
De acordo com o filho de Colombo, Fernando, os nativos ficaram aterrorizados com tal acontecimento e "... com gritos vociferantes e lamentações correram de todas as direcções até aos navios e encheram-nos com provisões, rezando ao Almirante para interceder por eles junto do seu deus." Prometeram que iam de bom grado cooperar com Colombo e com os seus homens se restaurasse a Lua ao seu estado normal. O grande explorador disse aos nativos que teria que retirar-se para conversar em privado com o seu deus. Fechou-se depois na sua cabine durante uns cinquenta minutos.
O "seu deus" era uma ampulheta que Colombo virava a cada meia hora para medir os diferentes estágios do eclipse, com base nos cálculos providenciados pelo almanaque de Regiomontanus.
Momentos antes do fim da fase total, Colombo reapareceu, anunciando aos nativos que o seus deus os tinha perdoado e que iria permitir o regresso gradual da Lua. E nesse momento, tal e qual a palavra de Colombo, a Lua lentamente começou a reaparecer e à medida que emergia da sombra da Terra, os gratos nativos dispersaram. A partir daí, mantiveram Colombo e os seus homens bem abastecidos e bem alimentados até que uma caravela de Espanhola finalmente chegou no dia 29 de Junho de 1504. Colombo e a sua tripulação regressaram a Espanha no dia 7 de Novembro.
Num interessante pós-escrito desta história, em 1889, Mark Twain, provavelmente influenciado pelo truque do eclipse, escreveu o romance "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court". Aí, o personagem principal, Hank Morgan, usa um truque semelhante ao de Colombo.
Morgan está prestes a ser queimado na fogueira, e "prevê" um eclipse solar que sabe que vai acontecer. No processo, reclama poder sobre o Sol. Oferece de bom grado o regresso da estrela ao céu em troca da sua liberdade e de uma posição como "ministro e executivo perpétuo" do Rei.
O único problema com esta história é que na data citada por Mark Twain - 21 de Junho do ano 528 - nenhum eclipse teve lugar. De facto, havia já três dias que a Lua tinha passado a sua fase de Cheia, uma configuração que não pode gerar um eclipse.
Talvez devesse ter consultado um almanaque!
Como funciona um eclipse lunar.
Crédito: Wikipedia
(clique na imagem para ver versão maior)
Fonte: Astronomia On-line
Na noite de 20 de Fevereiro, a Lua Cheia passará na sombra da Terra num evento que será visível praticamente por todo o Hemisfério Norte, desde os EUA até à Europa. O eclipse lunar total será ainda mais bonito devido à presença próxima do planeta Saturno e da brilhante e azulada Régulo, da constelação de Leão.
Os eclipses no passado distante normalmente aterrorizavam quem os visse e eram assim tidos como presságios do mal. Certos eclipses lunares tiveram um efeito avassalador em eventos históricos. Um dos mais famosos exemplos é o truque de Cristóvão Colombo.
No dia 12 de Outubro de 1492, como supostamente todos os alunos que estudam História deviam saber, Colombo alcançou uma ilha a Nordeste de Cuba. Mais tarde deu-lhe o nome de São Salvador. Durante os dez anos seguintes, Colombo faria mais três viagens ao "Novo Mundo", que só veio a aumentar a convicção que tinha chegado ao Oriente navegando para Oeste.
Foi na sua quarta e final viagem, enquanto explorava a costa da América Central, que Colombo se encontrou em maus lençóis. Deixou Cádiz, Espanha, a 11 de Maio de 1502, com os navios Capitana, Gallega, Vizcaína e Santiago de Palos. Infelizmente, graças a uma epidemia de térmitas que atacaram as embarcações, Colombo foi forçado a abandonar dois dos seus navios e finalmente teve que dar como encalhadas as suas duas últimas caravelas na costa norte da Jamaica a 25 de Junho de 1503.
Inicialmente, os nativos da Jamaica receberam de braços abertos os náufragos, providenciando-lhes com comida e abrigo, mas à medida que os dias se tornavam em semanas, as tensões escalaram. Finalmente, após terem estado encalhados durante mais de seis meses, metade da tripulação de Colombo amutina-se, saqueia e assasina vários nativos, já eles também fartos de oferecer mandioca, milho e peixes em troca de pequenos assobios de latão, bugigangas, sinos de falcões e outros bens facilmente dispensáveis.
Com a fome agora a ameaçar, Colombo formula um plano desesperado, embora engenhoso.
Johannes Müller von Königsberg (1436-1476) veio em auxílio do Almirante, conhecido pelo pseudónimo latino de Regiomontanus. Foi um importante matemático alemão, astrónomo e astrólogo. Antes da sua morte, Regiomontanus publicou um almanaque contendo tabelas astronómicas e cobrindo os anos entre 1475 e 1506. O almanaque de Regiomontanus veio a revelar-se de grande valor, pois as suas tabelas astronómicas continham informações acerca do Sol, Lua e planetas, bem como as mais importantes estrelas e constelações que ajudam na navegação. Depois de ter sido publicado, nenhum marinheiro se aventurava ao mar sem uma cópia. Com a sua ajuda, os exploradores foram capazes de deixar as suas rotas comerciais e de se aventurarem para mares desconhecidos em busca de novos mundos.
Colombo, claro, tinha uma cópia do almanque com ele enquanto estava na Jamaica. E em pouco tempo de estudo das tabelas, descobriu que na noite de Quinta, 29 de Fevereiro de 1504, um eclipse total da Lua teria lugar pouco tempo depois do nascer-da-Lua.
Armado com o seu conhecimento, três dias antes do eclipse, Colombo pediu uma reunião com o Cacique ("líder") dos nativos e anunciou que o seu deus Cristão estava enfurecido com o seu povo por já não fornecer comida a Colombo e à sua tripulação. Por isso, estava prestes a mostrar um claro sinal da sua raiva: daí a três noites, obliteraria a Lua nascente, tornando-a "vermelha de fúria", que significava que males estavam prestes a serem libertados sobre todos eles.
Na noite prevista, à medida que o Sol se punha a Oeste e a Lua começava a emergir para lá do horizonte a Este, era claramente óbvio para todos que algo estava terrivelmente errado. Quando a Lua subiu totalmente acima do horizonte, faltava o seu limite mais abaixo!
E, apenas uma hora mais tarde, à medida que descia a escuridão, a Lua exibia uma aparência incendiária e "ensanguentada": no lugar da normalmente brilhante Lua Cheia de Inverno, agora pairava uma ténue bola vermelha no céu a Este.
De acordo com o filho de Colombo, Fernando, os nativos ficaram aterrorizados com tal acontecimento e "... com gritos vociferantes e lamentações correram de todas as direcções até aos navios e encheram-nos com provisões, rezando ao Almirante para interceder por eles junto do seu deus." Prometeram que iam de bom grado cooperar com Colombo e com os seus homens se restaurasse a Lua ao seu estado normal. O grande explorador disse aos nativos que teria que retirar-se para conversar em privado com o seu deus. Fechou-se depois na sua cabine durante uns cinquenta minutos.
O "seu deus" era uma ampulheta que Colombo virava a cada meia hora para medir os diferentes estágios do eclipse, com base nos cálculos providenciados pelo almanaque de Regiomontanus.
Momentos antes do fim da fase total, Colombo reapareceu, anunciando aos nativos que o seus deus os tinha perdoado e que iria permitir o regresso gradual da Lua. E nesse momento, tal e qual a palavra de Colombo, a Lua lentamente começou a reaparecer e à medida que emergia da sombra da Terra, os gratos nativos dispersaram. A partir daí, mantiveram Colombo e os seus homens bem abastecidos e bem alimentados até que uma caravela de Espanhola finalmente chegou no dia 29 de Junho de 1504. Colombo e a sua tripulação regressaram a Espanha no dia 7 de Novembro.
Num interessante pós-escrito desta história, em 1889, Mark Twain, provavelmente influenciado pelo truque do eclipse, escreveu o romance "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court". Aí, o personagem principal, Hank Morgan, usa um truque semelhante ao de Colombo.
Morgan está prestes a ser queimado na fogueira, e "prevê" um eclipse solar que sabe que vai acontecer. No processo, reclama poder sobre o Sol. Oferece de bom grado o regresso da estrela ao céu em troca da sua liberdade e de uma posição como "ministro e executivo perpétuo" do Rei.
O único problema com esta história é que na data citada por Mark Twain - 21 de Junho do ano 528 - nenhum eclipse teve lugar. De facto, havia já três dias que a Lua tinha passado a sua fase de Cheia, uma configuração que não pode gerar um eclipse.
Talvez devesse ter consultado um almanaque!
Como funciona um eclipse lunar.
Crédito: Wikipedia
(clique na imagem para ver versão maior)
Fonte: Astronomia On-line