- segunda jan 07, 2008 3:21 am
#19672
Parece quase tradição nesta altura do ano os observadores do céu debruçarem-se sobre a antiga questão da possível origem da Estrela de Belém. Será que a chamada Estrela de Natal foi uma reunião celeste de planetas visíveis a olho nu, ou teria este "sinal no céu" sido um meteoro, cometa, nova, ou de facto qualquer coisa sobrenatural?
Novos dados sobre as antigas crenças astrológicas e modernas tabelas planetárias informáticas poderão esclarecer um pouco mais acerca desta questão. Mas antes de viajarmos no tempo para explorar as possíveis respostas, é preciso compreender os muitos problemas por trás destas questões.
Existem muitos factores que contribuem para o puzzle, incluíndo a incerteza da data real do nascimento de Jesus Cristo e da terminologia usada para descrever eventos celestes durante o aparecimento da Estrela há uns 20 séculos atrás. Por exemplo, qualquer objecto celeste brilhante o suficiente para atraír a nossa atenção era apto a ser chamado "estrela". Os meteoros, por exemplo, têm o nome "estrelas cadentes"; os cometas eram "estrelas com cabelo"; as novas eram "estrelas novas" e os planetas eram "estrelas errantes".
A Bíblia nada diz sobre a data do nascimento de Cristo, mas no entanto refere personagens e eventos históricos, tais como o reinado do Rei Herodes. Os estudos históricos modernos sugerem que Herodes possa ter morrido algures entre 4 e 1 AC, de acordo com o nosso calendário actual. Diz-se que os Reis Magos visitaram Herodes mesmo antes de morrer, e presumivelmente o nascimento de Jesus e o aparecimento da Estrela vieram antes disso.
E é também muito duvidoso que Jesus tenha nascido no fim de Dezembro. Por um lado, a passagem bíblica de S. Lucas, "Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho" (capítulo 2, versículo 8), indica que a provável estação seria a Primavera: era quando os pastores na Judeia cuidavam dos cordeiros recém-nascidos.
Na Antiguidade, o dia 25 de Dezembro marcava o grande festival Romano da Saturnália. Era uma altura em que se trocavam presentes; os lares, ruas e edifícios eram decorados; as pessoas voltavam a casa e havia no ar um ambiente de grande felicidade e de festa. Diz-se que os primeiros Cristãos escolheram a data da Saturnália de modo a evitar indevidas atenções e assim escapar à perseguição da época. Quando o imperador Romano Constantino finalmente adoptou o Cristianismo no século IV, a data do Natal permaneceu dia 25 de Dezembro.
O nascimento de Jesus Cristo quase de certeza não ocorreu há 2007 anos atrás. A nossa cronologia actual, pela qual os anos são numerados com AC ou DC, foi concebida pelo abade Romano Dionísio Exíguo por volta de 523 DC. Infelizmente, Dionísio fez dois erros crassos nos seus cálculos. O primeiro foi a sua colocação de 1 DC imediatamente depois de 1 AC, ignorando completamente o necessário ano 0 no meio. Na Europa da altura, o zero não era considerado um número. Sendo assim, por exemplo, o ano que agora chamamos de 3 AC, é realmente 2 numericamente falando.
O segundo foi Dionísio ter aceite a declaração de Clemente de Alexandria que Jesus nasceu no 28.º ano do reino do imperador Romano César Augusto. Mas Dionísio falhou ao não se aperceber que durante os primeiros quatro anos deste reinado, o líder era conhecido pelo seu nome original de Octávio, até que o senado Romano o proclamou de "Augusto". Por isso só aqui temos um erro de quatro anos, mas quando estes erros foram notados na nossa cronologia, esta já estava demasiado bem implementada para ser alterada.
No que respeita à altura do aparecimento da Estrela, a maioria dos astrónomos e dos estudiosos da Bíblia acreditam que provavelmente ocorreu algures entre os anos 7 e 2 AC. É esta então a janela que precisamos explorar para determinar se havia algo raro no céu que possa ter capturado a atenção dos Reis Magos.
O que era?
Pelo menos quatro teorias foram propostas para devidamente explicar a Estrela de um ponto de vista puramente astronómico.
A primeira ideia possivelmente proposta dizia que era um meotoro irregularmente brilhante visto a viajar pelo céu até ao horizonte. Mas como todos os observadores do céu sabem, tal objecto atravessa o céu numa questão de segundos, um espaço de tempo demasiado curto para guiar os Reis Magos através do Oriente até à pequena cidade de Belém. Por isso podemos, com um elevado grau de confiança, descartar esta teoria.
Não tão facilmente descartada, no entanto, é a possibilidade da Estrela ter sido um cometa brilhante.
Os cometas permanecem visíveis a olho nu durante semanas no céu, antes do amanhecer ou a seguir ao pôr-do-Sol. Não é impossível conceber um cometa com uma cabeça brilhante como uma estrela e uma longa cauda, apontando tal como um dedo cósmico na direcção do horizonte, que possa ter guiado os Reis Magos a Belém.
O famoso Cometa Halley, observado pela última vez no início de 1986, também iluminou o céu durante Agosto até Setembro do ano 11 AC. No entanto, a maioria das autoridades põe-no de lado devido a não se encaixar no intervalo de tempo. Embora pareça improvável que outro grande cometa tenha aparecido mais próximo do espaço de tempo aceite do aparecimento da Estrela e nunca tenha sido registado, não podemos ter a certeza.
Além disso, os cometas eram vistos na altura como presságios do mal, tal como cheias ou fome, bem como a morte e não o nascimento de reis ou monarcas. Os Romanos, ao marcar a morte do General Romano Agripa, por exemplo, usaram a aparição de 11 AC do Cometa Halley como indicação. Com isto em mente, os cometas seriam um sinal celeste errado que assinalaria o nascimento de um rei.
Talvez a resposta mais simples seja uma nova ou uma explosão de supernova: uma nova estrela brilha onde não estava nada antes e não deixa para trás nenhuma indicação para se descobrir no futuro.
Embora os seus nomes impliquem uma nova criação, estes objectos espectaculares são na realidade estrelas no final da sua vida, embora sejam novidades (por mais temporárias que sejam) no céu nocturno. O aparecimento de uma nova é um acontecimento imprevisível e realmente brilhante, que se torna visível talvez a cada 25 ou 30 anos. Com isto em mente, a qualquer altura devemos estar a observar um destes espectáculos à vista desarmada, dado que a nova mais brilhante e recente ocorreu em 1975 (e não muito longe da brilhante estrela Deneb, na constelação de Cisne).
A maioria das novas brilhantes subitamente e inesperadamente ganham um brilho enorme, literalmente de uma noite para a outra, atraíndo a atenção, instantaneamente, de qualquer pessoa que esteja consciente do que há no céu. Mas ao fim de vários dias ou semanas de tal notoriedade, gradualmente vão perdendo brilho até que desaparecem por completo.
Ainda mais espectaculares e raras são as supernovas; estrelas que subitamente rebentam, produzindo por pouco tempo uma libertação incrível de energia, equivalente à luz combinada de uma galáxia inteira de estrelas. No pico da sua explosão, uma supernova pode brilhar com luminosidade suficiente para criar sombras ou até para ser vista durante o dia, certamente um evento celeste digno de anunciar o nascimento de um rei.
Na nossa Via Láctea, ao longo do último milhar de anos, houveram 4 brilhantes supernovas, em 1006, 1054 1572 e 1604. Claramente, há muito que esperamos outra, embora as estrelas não sigam necessariamente um calendário que possamos estipular.
Embora uma nova ou supernova seja a mais convincente explicação para a Estrela de Belém, existe aqui um problema sério, pois parece não haver nenhum registo definitivo de uma brilhante nova ter aparecido no céu durante a altura que os estudiosos da Bíblia acreditam que os Reis Magos fizeram a sua viagem.
Uma nova aparentemente iluminou-se, entre as constelações de Capricórnio e Aquário, durante a Primavera do ano 5 AC. Mas os registos chineses, que descrevem este objecto, implicam que não era nada de notável.
Talvez um planeta
A teoria final é que a Estrela de Belém era um ou mais dos brilhantes planetas observáveis à vista desarmada.
A possibilidade dos Reis Magos terem confundido um ou mais planetas, tão-lhes familiares, com uma estrela, parece remota. No entanto, por vezes dois ou mais destes incansáveis errantes juntam-se numa espectacular conjunção. Talvez um agrupamento planetário de beleza particular; uma excepcionalmente próxima conjunção de dois planetas ou agrupamentos de três ou mais, criando uma notável figura geométrica no céu que pode ter tido lugar entre os anos 7 e 2 AC.
Uma reunião deste género seria algo bastante raro e inesperado.
Tal evento foi registado na noite de 25 de Fevereiro do ano 6 AC, envolvendo Marte, Júpiter e Saturno, e aconteceu na constelação de Peixes. Se já visitou um planetário por esta altura de Natal, então provavelmente já sentiu a excitação ao ver o projector do planetário viajar no passado para recriar este evento belo e raro.
Outra possível explicação para a Estrela de Belém seria a passagem tripla de Júpiter por Saturno entre Maio e Dezembro de 7 AC: uma "grande conjunção." Júpiter pareceu passar um grau para Norte de Saturno no dia 29 de Maio; praticamente no mesmo local a 30 de Setembro; e finalmente uma terceira vez a 5 de Dezembro.
Não existem dúvidas acerca da visibilidade destes eventos, quase todos na direcção oposta à do Sol no céu nocturno. Em relação ao seu impacto astrológico, os Reis Magos certamente notaram que ambos os planetas não se afastaram muito entre as suas conjunções. De facto, durante oito meses consecutivos, o tempo necessário para viajar 800 km ou mais, desde a Babilónia até à Judeia, Júpiter e Saturno permaneceram a menos de 3 graus de separação, desde o final de Abril de 7 AC até ao princípio de Janeiro de 6 AC.
Um punho observado com o braço esticado cobre cerca de 10 graus no céu.
Mas talvez nenhuma outra reunião planetária possa igualar a dos dois planetas mais brilhantes, Vénus e Júpiter, para a explicação que procuramos. E se tomarmos em conta o único registo literal do aparecimento da Estrela, escrito em S. Mateus, então o que realmente precisamos é o aparecimento de não apenas uma, mas de duas "estrelas." O primeiro aparecimento teria sido observado com bastante antecedência da chegada dos Reis Magos a Belém, e o outro no final da sua longa viagem.
Talvez o sinal da sua Estrela tenha sido um sinal na constelação de Leão. Para os israelitas, Leão era uma constelação de grande importância astrológica e era considerada como parte sagrada do céu. Uma muito próxima conjunção teria sido visível no céu antes do amanhecer a Este no Médio Oriente entre as 03:45 e as 05:20 da manhã de 12 de Agosto do ano 3 AC.
Quando nasceram sobre o horizonte a Este, os dois planetas estavam separados por apenas 2/5 do diâmetro aparente da Lua, ou 12 minutos de arco. Como comparação, a separação entre as estrelas Mizar e Alcor na Ursa Maior é também de 12 minutos. Esta tão pequena distância entre planetas é mesmo notável, se não variarem muito em brilho.
Incidentalmente, S. Mateus escreveu que os Reis Magos afirmaram na sua reunião com o Rei Herodes (capítulo 2, versículo 2): "porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo." Nunca é claro se viram a estrela no céu a Este, ou se a viram a partir do Oriente. O facto da conjunção de 12 de Agosto do ano 3 AC entre Vénus e Júpiter ter ocorrido no céu a Este e poder também ter começado quando os Reis Magos iniciaram a sua viagem (a partir do Oriente) até Belém significa que ambos os casos podem corresponder a esta afirmação -- registada por S. Mateus -- dita a Herodes.
Por fim, Vénus desapareceu no brilho do Sol, mas Júpiter e Leão permaneceram no céu nocturno durante os dez meses seguintes. Durante esta altura, tiveram lugar um número adicional de conjunções planetárias, todas as quais teriam sido de grande importância para os sacerdotes-astrólogos da altura.
Encore
Depois, durante o mês de Junho do ano 2 AC, à medida que Júpiter e as estrelas de Leão começavam a descer no anoitecer a Oeste, Vénus mais uma vez regressou à mesma região do céu para um "encore" ainda mais espectacular. Os Reis Magos teriam feito um registo especial desta noite de 17 de Junho, quando Júpiter e Vénus apareceram ainda mais próximos do que nas madrugadas do anterior mês de Agosto. À medida que os dois planetas desciam na direcção do horizonte, aproximavam-se cada vez mais.
Finalmente, por volta das 20:30 (hora local) estavam a uns meros 0,6 minutos de arco entre si, enquanto pairavam a uns 15 graus acima do horizonte a Oeste. Para os Reis Magos, estes dois planetas mais brilhantes pareceriam coalescer num só e brilhavam como um farol sobre a Judeia. Os óculos só viriam muitos séculos mais tarde, por isso apenas pessoas com visão perfeita é que conseguiriam ver os dois planetas separados.
A Astronomia pode dizer-nos que todas estas conjunções planetárias realmente ocorreram. De facto, quem quiser pode utilizar programas informáticos que simulam o céu para viajar no tempo e observar todas estas configurações planetárias no seu computador, e julgar quais teriam sido as mais impressionantes para os Reis Magos.
Mas se alguém as realmente observou, ou se alguma destas impulsionou os Reis Magos na sua viagem histórica, é apenas pura conjuntura.
E finalmente, seria a Estrela de Belém realmente uma estrela miraculosa? A estrela das estrelas, aparecer apenas uma vez na História da Humanidade? Chegar a uma conclusão neste assunto não é fácil, pois qualquer teoria natural para a Estrela de Belém pode ser, no seu máximo, apenas uma suposição calculada.
Talvez este seja um mistério que a Ciência moderna nunca poderá realmente desvendar. A Astronomia já nos levou onde podia.
A decisão final é só sua.
Novos dados sobre as antigas crenças astrológicas e modernas tabelas planetárias informáticas poderão esclarecer um pouco mais acerca desta questão. Mas antes de viajarmos no tempo para explorar as possíveis respostas, é preciso compreender os muitos problemas por trás destas questões.
Existem muitos factores que contribuem para o puzzle, incluíndo a incerteza da data real do nascimento de Jesus Cristo e da terminologia usada para descrever eventos celestes durante o aparecimento da Estrela há uns 20 séculos atrás. Por exemplo, qualquer objecto celeste brilhante o suficiente para atraír a nossa atenção era apto a ser chamado "estrela". Os meteoros, por exemplo, têm o nome "estrelas cadentes"; os cometas eram "estrelas com cabelo"; as novas eram "estrelas novas" e os planetas eram "estrelas errantes".
A Bíblia nada diz sobre a data do nascimento de Cristo, mas no entanto refere personagens e eventos históricos, tais como o reinado do Rei Herodes. Os estudos históricos modernos sugerem que Herodes possa ter morrido algures entre 4 e 1 AC, de acordo com o nosso calendário actual. Diz-se que os Reis Magos visitaram Herodes mesmo antes de morrer, e presumivelmente o nascimento de Jesus e o aparecimento da Estrela vieram antes disso.
E é também muito duvidoso que Jesus tenha nascido no fim de Dezembro. Por um lado, a passagem bíblica de S. Lucas, "Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho" (capítulo 2, versículo 8), indica que a provável estação seria a Primavera: era quando os pastores na Judeia cuidavam dos cordeiros recém-nascidos.
Na Antiguidade, o dia 25 de Dezembro marcava o grande festival Romano da Saturnália. Era uma altura em que se trocavam presentes; os lares, ruas e edifícios eram decorados; as pessoas voltavam a casa e havia no ar um ambiente de grande felicidade e de festa. Diz-se que os primeiros Cristãos escolheram a data da Saturnália de modo a evitar indevidas atenções e assim escapar à perseguição da época. Quando o imperador Romano Constantino finalmente adoptou o Cristianismo no século IV, a data do Natal permaneceu dia 25 de Dezembro.
O nascimento de Jesus Cristo quase de certeza não ocorreu há 2007 anos atrás. A nossa cronologia actual, pela qual os anos são numerados com AC ou DC, foi concebida pelo abade Romano Dionísio Exíguo por volta de 523 DC. Infelizmente, Dionísio fez dois erros crassos nos seus cálculos. O primeiro foi a sua colocação de 1 DC imediatamente depois de 1 AC, ignorando completamente o necessário ano 0 no meio. Na Europa da altura, o zero não era considerado um número. Sendo assim, por exemplo, o ano que agora chamamos de 3 AC, é realmente 2 numericamente falando.
O segundo foi Dionísio ter aceite a declaração de Clemente de Alexandria que Jesus nasceu no 28.º ano do reino do imperador Romano César Augusto. Mas Dionísio falhou ao não se aperceber que durante os primeiros quatro anos deste reinado, o líder era conhecido pelo seu nome original de Octávio, até que o senado Romano o proclamou de "Augusto". Por isso só aqui temos um erro de quatro anos, mas quando estes erros foram notados na nossa cronologia, esta já estava demasiado bem implementada para ser alterada.
No que respeita à altura do aparecimento da Estrela, a maioria dos astrónomos e dos estudiosos da Bíblia acreditam que provavelmente ocorreu algures entre os anos 7 e 2 AC. É esta então a janela que precisamos explorar para determinar se havia algo raro no céu que possa ter capturado a atenção dos Reis Magos.
O que era?
Pelo menos quatro teorias foram propostas para devidamente explicar a Estrela de um ponto de vista puramente astronómico.
A primeira ideia possivelmente proposta dizia que era um meotoro irregularmente brilhante visto a viajar pelo céu até ao horizonte. Mas como todos os observadores do céu sabem, tal objecto atravessa o céu numa questão de segundos, um espaço de tempo demasiado curto para guiar os Reis Magos através do Oriente até à pequena cidade de Belém. Por isso podemos, com um elevado grau de confiança, descartar esta teoria.
Não tão facilmente descartada, no entanto, é a possibilidade da Estrela ter sido um cometa brilhante.
Os cometas permanecem visíveis a olho nu durante semanas no céu, antes do amanhecer ou a seguir ao pôr-do-Sol. Não é impossível conceber um cometa com uma cabeça brilhante como uma estrela e uma longa cauda, apontando tal como um dedo cósmico na direcção do horizonte, que possa ter guiado os Reis Magos a Belém.
O famoso Cometa Halley, observado pela última vez no início de 1986, também iluminou o céu durante Agosto até Setembro do ano 11 AC. No entanto, a maioria das autoridades põe-no de lado devido a não se encaixar no intervalo de tempo. Embora pareça improvável que outro grande cometa tenha aparecido mais próximo do espaço de tempo aceite do aparecimento da Estrela e nunca tenha sido registado, não podemos ter a certeza.
Além disso, os cometas eram vistos na altura como presságios do mal, tal como cheias ou fome, bem como a morte e não o nascimento de reis ou monarcas. Os Romanos, ao marcar a morte do General Romano Agripa, por exemplo, usaram a aparição de 11 AC do Cometa Halley como indicação. Com isto em mente, os cometas seriam um sinal celeste errado que assinalaria o nascimento de um rei.
Talvez a resposta mais simples seja uma nova ou uma explosão de supernova: uma nova estrela brilha onde não estava nada antes e não deixa para trás nenhuma indicação para se descobrir no futuro.
Embora os seus nomes impliquem uma nova criação, estes objectos espectaculares são na realidade estrelas no final da sua vida, embora sejam novidades (por mais temporárias que sejam) no céu nocturno. O aparecimento de uma nova é um acontecimento imprevisível e realmente brilhante, que se torna visível talvez a cada 25 ou 30 anos. Com isto em mente, a qualquer altura devemos estar a observar um destes espectáculos à vista desarmada, dado que a nova mais brilhante e recente ocorreu em 1975 (e não muito longe da brilhante estrela Deneb, na constelação de Cisne).
A maioria das novas brilhantes subitamente e inesperadamente ganham um brilho enorme, literalmente de uma noite para a outra, atraíndo a atenção, instantaneamente, de qualquer pessoa que esteja consciente do que há no céu. Mas ao fim de vários dias ou semanas de tal notoriedade, gradualmente vão perdendo brilho até que desaparecem por completo.
Ainda mais espectaculares e raras são as supernovas; estrelas que subitamente rebentam, produzindo por pouco tempo uma libertação incrível de energia, equivalente à luz combinada de uma galáxia inteira de estrelas. No pico da sua explosão, uma supernova pode brilhar com luminosidade suficiente para criar sombras ou até para ser vista durante o dia, certamente um evento celeste digno de anunciar o nascimento de um rei.
Na nossa Via Láctea, ao longo do último milhar de anos, houveram 4 brilhantes supernovas, em 1006, 1054 1572 e 1604. Claramente, há muito que esperamos outra, embora as estrelas não sigam necessariamente um calendário que possamos estipular.
Embora uma nova ou supernova seja a mais convincente explicação para a Estrela de Belém, existe aqui um problema sério, pois parece não haver nenhum registo definitivo de uma brilhante nova ter aparecido no céu durante a altura que os estudiosos da Bíblia acreditam que os Reis Magos fizeram a sua viagem.
Uma nova aparentemente iluminou-se, entre as constelações de Capricórnio e Aquário, durante a Primavera do ano 5 AC. Mas os registos chineses, que descrevem este objecto, implicam que não era nada de notável.
Talvez um planeta
A teoria final é que a Estrela de Belém era um ou mais dos brilhantes planetas observáveis à vista desarmada.
A possibilidade dos Reis Magos terem confundido um ou mais planetas, tão-lhes familiares, com uma estrela, parece remota. No entanto, por vezes dois ou mais destes incansáveis errantes juntam-se numa espectacular conjunção. Talvez um agrupamento planetário de beleza particular; uma excepcionalmente próxima conjunção de dois planetas ou agrupamentos de três ou mais, criando uma notável figura geométrica no céu que pode ter tido lugar entre os anos 7 e 2 AC.
Uma reunião deste género seria algo bastante raro e inesperado.
Tal evento foi registado na noite de 25 de Fevereiro do ano 6 AC, envolvendo Marte, Júpiter e Saturno, e aconteceu na constelação de Peixes. Se já visitou um planetário por esta altura de Natal, então provavelmente já sentiu a excitação ao ver o projector do planetário viajar no passado para recriar este evento belo e raro.
Outra possível explicação para a Estrela de Belém seria a passagem tripla de Júpiter por Saturno entre Maio e Dezembro de 7 AC: uma "grande conjunção." Júpiter pareceu passar um grau para Norte de Saturno no dia 29 de Maio; praticamente no mesmo local a 30 de Setembro; e finalmente uma terceira vez a 5 de Dezembro.
Não existem dúvidas acerca da visibilidade destes eventos, quase todos na direcção oposta à do Sol no céu nocturno. Em relação ao seu impacto astrológico, os Reis Magos certamente notaram que ambos os planetas não se afastaram muito entre as suas conjunções. De facto, durante oito meses consecutivos, o tempo necessário para viajar 800 km ou mais, desde a Babilónia até à Judeia, Júpiter e Saturno permaneceram a menos de 3 graus de separação, desde o final de Abril de 7 AC até ao princípio de Janeiro de 6 AC.
Um punho observado com o braço esticado cobre cerca de 10 graus no céu.
Mas talvez nenhuma outra reunião planetária possa igualar a dos dois planetas mais brilhantes, Vénus e Júpiter, para a explicação que procuramos. E se tomarmos em conta o único registo literal do aparecimento da Estrela, escrito em S. Mateus, então o que realmente precisamos é o aparecimento de não apenas uma, mas de duas "estrelas." O primeiro aparecimento teria sido observado com bastante antecedência da chegada dos Reis Magos a Belém, e o outro no final da sua longa viagem.
Talvez o sinal da sua Estrela tenha sido um sinal na constelação de Leão. Para os israelitas, Leão era uma constelação de grande importância astrológica e era considerada como parte sagrada do céu. Uma muito próxima conjunção teria sido visível no céu antes do amanhecer a Este no Médio Oriente entre as 03:45 e as 05:20 da manhã de 12 de Agosto do ano 3 AC.
Quando nasceram sobre o horizonte a Este, os dois planetas estavam separados por apenas 2/5 do diâmetro aparente da Lua, ou 12 minutos de arco. Como comparação, a separação entre as estrelas Mizar e Alcor na Ursa Maior é também de 12 minutos. Esta tão pequena distância entre planetas é mesmo notável, se não variarem muito em brilho.
Incidentalmente, S. Mateus escreveu que os Reis Magos afirmaram na sua reunião com o Rei Herodes (capítulo 2, versículo 2): "porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo." Nunca é claro se viram a estrela no céu a Este, ou se a viram a partir do Oriente. O facto da conjunção de 12 de Agosto do ano 3 AC entre Vénus e Júpiter ter ocorrido no céu a Este e poder também ter começado quando os Reis Magos iniciaram a sua viagem (a partir do Oriente) até Belém significa que ambos os casos podem corresponder a esta afirmação -- registada por S. Mateus -- dita a Herodes.
Por fim, Vénus desapareceu no brilho do Sol, mas Júpiter e Leão permaneceram no céu nocturno durante os dez meses seguintes. Durante esta altura, tiveram lugar um número adicional de conjunções planetárias, todas as quais teriam sido de grande importância para os sacerdotes-astrólogos da altura.
Encore
Depois, durante o mês de Junho do ano 2 AC, à medida que Júpiter e as estrelas de Leão começavam a descer no anoitecer a Oeste, Vénus mais uma vez regressou à mesma região do céu para um "encore" ainda mais espectacular. Os Reis Magos teriam feito um registo especial desta noite de 17 de Junho, quando Júpiter e Vénus apareceram ainda mais próximos do que nas madrugadas do anterior mês de Agosto. À medida que os dois planetas desciam na direcção do horizonte, aproximavam-se cada vez mais.
Finalmente, por volta das 20:30 (hora local) estavam a uns meros 0,6 minutos de arco entre si, enquanto pairavam a uns 15 graus acima do horizonte a Oeste. Para os Reis Magos, estes dois planetas mais brilhantes pareceriam coalescer num só e brilhavam como um farol sobre a Judeia. Os óculos só viriam muitos séculos mais tarde, por isso apenas pessoas com visão perfeita é que conseguiriam ver os dois planetas separados.
A Astronomia pode dizer-nos que todas estas conjunções planetárias realmente ocorreram. De facto, quem quiser pode utilizar programas informáticos que simulam o céu para viajar no tempo e observar todas estas configurações planetárias no seu computador, e julgar quais teriam sido as mais impressionantes para os Reis Magos.
Mas se alguém as realmente observou, ou se alguma destas impulsionou os Reis Magos na sua viagem histórica, é apenas pura conjuntura.
E finalmente, seria a Estrela de Belém realmente uma estrela miraculosa? A estrela das estrelas, aparecer apenas uma vez na História da Humanidade? Chegar a uma conclusão neste assunto não é fácil, pois qualquer teoria natural para a Estrela de Belém pode ser, no seu máximo, apenas uma suposição calculada.
Talvez este seja um mistério que a Ciência moderna nunca poderá realmente desvendar. A Astronomia já nos levou onde podia.
A decisão final é só sua.
Última edição por VIP3R em segunda jan 07, 2008 3:24 am, editado 1 vez no total.