- terça nov 09, 2010 6:22 pm
#60176
Este fim-de-semana passado teve lugar um evento que pode perturbar os reis do espaço trans-neptuniano. Se os resultados preliminares estiverem correctos, desta vez é o planeta-anão Éris que sofre as consequências, e Plutão recupera o seu estatuto de maior objecto da Cintura de Kuiper.
Este drama passa-se bem alto nos Andes do Chile, onde há poucos dias três equipas de astrónomos apanharam Éris a passar directamente em frente de uma estrela de magnitude 17 na constelação de Baleia. Os astrónomos há algum tempo que sabiam desta ocultação, mas o percurso previsto era diferente ao longo da América do Sul, deixando os astrónomos na dúvida acerca da visibilidade do evento.
Bem, a notícia do Chile é que três equipas, todas usando telescópios relativamente modestos, viram a estrela piscar.
De acordo com Emmanuël Jehin (Universidade de Liège, Bélgica), que observou o evento com o telescópio de 24-polegadas (60 cm), TRAPPIST, do Observatório de La Silla: "obtivemos sete 'frames' onde a luz da estrela desaparece." Dado que as imagens foram capturadas com intervalos de 4,5 segundos, Jehin diz que a ocultação durou cerca de 27 segundos.
Depois veio a notícia que a ocultação também tinha sido observada por outros dois telescópios 740 km para Norte. Sebastian Saravia, Alain Maury e Caisey Harlingten viram a estrela desaparecer por 76 segundos através do telescópio PlaneWave de 20-polegadas (50 cm) de Harlingten, no Observatório de Explorações Celestes em San Pedro de Atacama.
A ocultação também foi registada por um telescópio de 16-polegadas (40 cm), operado remotamente, sob o controlo de Jose-Luiz Ortiz (Instituto de Astrofísica da Andaluzia, Espanha).
Qualquer resultado positivo seria suficiente para celebrar - nunca antes uma ocultação tinha envolvido um objecto tão longínquo. Mas as observações em locais diferentes criam dois "acordes" para a sombra de Éris, que fornecem uma solução única para o seu diâmetro (assumindo que o objecto é esférico).
Esse número, segundo Bruno Sicardy (Observatório de Paris), é difícil de determinar com exactidão devido ao grau de incerteza na cronometragem dos três telescópios. Mesmo assim, Sicardy realça: "Quase de certeza que Éris tem um raio mais pequeno que 1170 km" - e isso torna-o ligeiramente mais pequeno que Plutão, cujo raio pensa-se que seja de 1172 (±10) km. É possível que o valor obtido ainda desça uns 50 ou 60 km.
É uma descoberta importante. E Mike Brown (Caltech), que liderou a equipa que descobriu Éris há uns anos atrás, não planeia discordar. "A maioria dos métodos que dispomos para medir os tamanhos de objectos no Sistema Solar exterior estão carregados de dificuldades," acrescenta Brown no seu website. "Mas ocultações deste género, cronometradas com precisão, conseguem dar-nos respostas incrivelmente precisas."
Imagens obtidas em Dezembro de 2005, por Brown e outros com o Telescópio Espacial Hubble, indicavam um diâmetro de 2400 km, apenas 5% maior que Plutão. Mas o tamanho real permanecia incerto devido ao olhar super-afinado do Hubble ser capaz de mal resolver o disco de Éris (lembre-se, está a cerca de 96,7 UA do Sol, quase três vezes a distância de Plutão).
Observações feitas com o Telescópio Espacial Spitzer proporcionaram um diâmetro perto dos 2600 km, e outro grupo, usando o radiotelescópio IRAM na Espanha, elevaram o valor para perto dos 3000 km. No entanto, os astrónomos sabem agora que o eixo de rotação de Eris aponta na direcção do Sol, um aspecto que torna o hemisfério iluminado mais quente que o normal e que eleva as medições infravermelhas.
A relativamente breve ocultação (tinha sido previsto durar quase 2 minutos), combinada com as observações negativas de um par de telescópios na Argentina, sugeriu rapidamente que Éris não era tão grande como se pensava. Por isso o resultado obtido no Chile é na realidade mais nas linhas do resultado do Hubble em 2005.
A massa de Éris, determinada a partir da órbita da sua lua, Disnomia, é cerca de 125% a de Plutão - e esta mantém-se. Por isso, se os resultados da ocultação estiverem correctos, então a densidade de Éris deve ser maior, 2,5 g/cm^3 ou mais, e o seu albedo (reflectividade) é pelo menos 90%.
"Há um ano atrás tinha pensado que este resultado era totalmente ridículo," comentou Brown, "pois essa densidade seria exorbitante," - embora ele acrescente, "o albedo é já tão ridiculamente alto que um pouco mais, mal não faz." Mas no início deste ano Brown e outros descobriram que Quaoar é essencialmente uma rocha densa (com uma densidade média de pelo menos 3 g/cm^3).
Outra coisa: as ocultações são métodos muito poderosos de determinar se um objecto tem uma atmosfera, e por agora todas as equipas não sabem se Éris tem ou não. O grande albedo do objecto, combinado com a sua grande distância, sugere que a superfície deve estar a absorver muito pouca luz solar para vaporizar qualquer gelo aí presente. Mas os astrónomos ficaram chocados ao descobrir (durante uma ocultação em 1988) que Plutão tem uma pequena atmosfera - por isso fique atento!
Percurso da sombra de Éris. A América do Sul foi o melhor local candidato a uma boa detecção, tendo em conta a incerteza na posição de Éris.
Crédito: Michael Brown
Éris (centro) e Disnómia (para a esquerda).
Crédito: NASA
Fonte: Astronomia Online
Este drama passa-se bem alto nos Andes do Chile, onde há poucos dias três equipas de astrónomos apanharam Éris a passar directamente em frente de uma estrela de magnitude 17 na constelação de Baleia. Os astrónomos há algum tempo que sabiam desta ocultação, mas o percurso previsto era diferente ao longo da América do Sul, deixando os astrónomos na dúvida acerca da visibilidade do evento.
Bem, a notícia do Chile é que três equipas, todas usando telescópios relativamente modestos, viram a estrela piscar.
De acordo com Emmanuël Jehin (Universidade de Liège, Bélgica), que observou o evento com o telescópio de 24-polegadas (60 cm), TRAPPIST, do Observatório de La Silla: "obtivemos sete 'frames' onde a luz da estrela desaparece." Dado que as imagens foram capturadas com intervalos de 4,5 segundos, Jehin diz que a ocultação durou cerca de 27 segundos.
Depois veio a notícia que a ocultação também tinha sido observada por outros dois telescópios 740 km para Norte. Sebastian Saravia, Alain Maury e Caisey Harlingten viram a estrela desaparecer por 76 segundos através do telescópio PlaneWave de 20-polegadas (50 cm) de Harlingten, no Observatório de Explorações Celestes em San Pedro de Atacama.
A ocultação também foi registada por um telescópio de 16-polegadas (40 cm), operado remotamente, sob o controlo de Jose-Luiz Ortiz (Instituto de Astrofísica da Andaluzia, Espanha).
Qualquer resultado positivo seria suficiente para celebrar - nunca antes uma ocultação tinha envolvido um objecto tão longínquo. Mas as observações em locais diferentes criam dois "acordes" para a sombra de Éris, que fornecem uma solução única para o seu diâmetro (assumindo que o objecto é esférico).
Esse número, segundo Bruno Sicardy (Observatório de Paris), é difícil de determinar com exactidão devido ao grau de incerteza na cronometragem dos três telescópios. Mesmo assim, Sicardy realça: "Quase de certeza que Éris tem um raio mais pequeno que 1170 km" - e isso torna-o ligeiramente mais pequeno que Plutão, cujo raio pensa-se que seja de 1172 (±10) km. É possível que o valor obtido ainda desça uns 50 ou 60 km.
É uma descoberta importante. E Mike Brown (Caltech), que liderou a equipa que descobriu Éris há uns anos atrás, não planeia discordar. "A maioria dos métodos que dispomos para medir os tamanhos de objectos no Sistema Solar exterior estão carregados de dificuldades," acrescenta Brown no seu website. "Mas ocultações deste género, cronometradas com precisão, conseguem dar-nos respostas incrivelmente precisas."
Imagens obtidas em Dezembro de 2005, por Brown e outros com o Telescópio Espacial Hubble, indicavam um diâmetro de 2400 km, apenas 5% maior que Plutão. Mas o tamanho real permanecia incerto devido ao olhar super-afinado do Hubble ser capaz de mal resolver o disco de Éris (lembre-se, está a cerca de 96,7 UA do Sol, quase três vezes a distância de Plutão).
Observações feitas com o Telescópio Espacial Spitzer proporcionaram um diâmetro perto dos 2600 km, e outro grupo, usando o radiotelescópio IRAM na Espanha, elevaram o valor para perto dos 3000 km. No entanto, os astrónomos sabem agora que o eixo de rotação de Eris aponta na direcção do Sol, um aspecto que torna o hemisfério iluminado mais quente que o normal e que eleva as medições infravermelhas.
A relativamente breve ocultação (tinha sido previsto durar quase 2 minutos), combinada com as observações negativas de um par de telescópios na Argentina, sugeriu rapidamente que Éris não era tão grande como se pensava. Por isso o resultado obtido no Chile é na realidade mais nas linhas do resultado do Hubble em 2005.
A massa de Éris, determinada a partir da órbita da sua lua, Disnomia, é cerca de 125% a de Plutão - e esta mantém-se. Por isso, se os resultados da ocultação estiverem correctos, então a densidade de Éris deve ser maior, 2,5 g/cm^3 ou mais, e o seu albedo (reflectividade) é pelo menos 90%.
"Há um ano atrás tinha pensado que este resultado era totalmente ridículo," comentou Brown, "pois essa densidade seria exorbitante," - embora ele acrescente, "o albedo é já tão ridiculamente alto que um pouco mais, mal não faz." Mas no início deste ano Brown e outros descobriram que Quaoar é essencialmente uma rocha densa (com uma densidade média de pelo menos 3 g/cm^3).
Outra coisa: as ocultações são métodos muito poderosos de determinar se um objecto tem uma atmosfera, e por agora todas as equipas não sabem se Éris tem ou não. O grande albedo do objecto, combinado com a sua grande distância, sugere que a superfície deve estar a absorver muito pouca luz solar para vaporizar qualquer gelo aí presente. Mas os astrónomos ficaram chocados ao descobrir (durante uma ocultação em 1988) que Plutão tem uma pequena atmosfera - por isso fique atento!
Percurso da sombra de Éris. A América do Sul foi o melhor local candidato a uma boa detecção, tendo em conta a incerteza na posição de Éris.
Crédito: Michael Brown
Éris (centro) e Disnómia (para a esquerda).
Crédito: NASA
Fonte: Astronomia Online